Depois de iniciar o
projeto pioneiro para produção de alimentos através de um sistema de energia
solar em Ibimirim, estimulando o consumo de plantas nativas da Caatinga, com
alto valor nutricional e já adaptadas ao clima seco desta região, a rede de
pesquisadores nacional (Ecolume), liderada pelo Laboratório de Mudança
Climática do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), ampliará o número de
comunidades e de cidades atendidas no Sertão de PE. E para isso, além de já
contar com recursos financeiros do CNPq (R$ 420 mil), poderá receber
investimentos do Instituto socioambiental Ekos Brasil. O projeto foi
pré-selecionado na última semana. Com o recurso, serão instalados painéis
fotovoltaicos voltado para Agricultura de Baixo Carbono (ABC) em comunidades
com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), já atendidas pelo IPA.
"Os projetos e
serviços socioambientais em sintonia com as mudanças climáticas precisam ser
ampliados no Semiárido, região de clima seco e que já se verifica o aumento da
temperatura em várias cidades", revela a climatologista e doutora em
Recursos Hídricos Francis Lacerda, que é pesquisadora do IPA e coordenadora da
Rede Ecolume. Ela realça que no semiárido pernambucano e do NE está o bioma
Caatinga - único no mundo e com uma das maiores biodiversidade e com a maior
população vivendo dentro dele em comparação a outros biomas. Uma agricultura
eficiente e sustentável, portanto, é vital para preservação da população, fauna
e flora, dependendo de ações dentro do novo paradigma do clima.
Neste sentido, a
Ecolume desenvolveu e vem aplicando pioneiramente um projeto em Ibimirim, na
escola Serta, através do novo conceito onde viabiliza "plantar água",
"comer Caatinga" e "irrigá-la com o sol". Francis explica
que plantar água é uma metáfora onde mostra a manutenção do ciclo hidrológico
em áreas florestais. A planta mantêm a umidade do solo e libera para atmosfera,
contribuindo para regular o microclima do local. Assim, para "plantar
água", deve-se fazer o recaantigamento (replantio) de plantas nativas ou
adaptadas ao clima do semiárido. E replantando as que podem ser consumidas
pelas pessoas, é possível "comer Caatinga". O umbu e espécies de
sorgo são algumas dessas vegetações, estudadas pelas unidades do IPA em
Ibimirim e em Araripina respectivamente. "O pão de farinha de sorgo, por
exemplo, já é vendido em padarias do Recife, sendo uma alternativa para quem
não pode comer glúten", diz Francis.
Frances Lacerda |
As mudanças
climáticas não só trazem vulnerabilidades. Elas também geram oportunidades para
o sertanejo e para a Caatinga, desde que quando o ser humano despertar para a
sua preservação como indutora de prosperidade social e ambiental integrada.
Para isso, é preciso que sejam adaptadas práticas socioeconômicas, como a
agricultura familiar. "Se o semiárido convive historicamente com pouca
chuva, solo seco e com altas temperaturas, que aumentarão, é indispensável
tirar proveito desse cenário. E isso é possível quando se transforma a
abundante radiação solar do semiárido, sendo ela vital para "irrigação"
das plantas, através da sua transformação em energia elétrica através do painel
fotovoltaico para captar e bombear água", diz Francis. Por estar no clima
semiárido, a pesquisadora frisa o necessário uso eficiente e eficaz da pouca
água da região, mas bem suficiente quando pelo gerenciamento de cada gota.
O conceito da
Ecolume potencializa a implantação de uma agricultura familiar sustentável de
baixo carbono no Sertão, aquela capaz de reduzir a emissão de gases de efeito
estufa através da produção de energia renovável. Também absolve, através das
plantas, o CO² já disperso na atmosfera. E ainda oportuniza a produção de
alimentos provenientes do plantio de culturas de plantas nativas e adaptadas ao
clima local. E isso potencializa outros benefícios socioambientais, como uma
melhor qualidade do ciclo hidrológico e a reeducação relativa ao uso da
água.
Elaine Noya doutota em Sociologia Rural |
"Assim, o IPA
vem contribuindo para a transição de uma agricultura mais limpa e saudável para
os produtores e consumidores. E o Ecolume está atualíssimo ao incentivar uma
produção que valoriza o homem e o seu modo de vida e de produção dentro do
bioma, aproveitando o sol como produtor de energia e não de seca e de
miséria", avalia a doutora em Sociologia Rural, Eliane Noya, do
Departamento de Pesquisa do IPA. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) também está nesta missão. O pesquisador Alexandre Barros, do Centro
Nacional de Solos, é um dos membros da Ecolume e está bastante entusiasmado.
Para Geraldo
Magela, coordenador do Departamento de Pesquisa do IPA, as atividades de
recomposição das plantas nativas e adaptadas à Caatinga e de
produção de energia renovável propostas pelo Ecolume têm relação intrínseca com
os programas centrais definidos pela ONU para a Agricultura de Baixo Carbono
(ABC). O Ecolume inclusive tem um outro projeto neste sentido em análise pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e
a Agricultura (FAO). O resultado final
deve sair nas próximas semanas. "Dos setes programas centrais para a ABC,
considero as mudanças do clima a base de todos os outros prioritários",
diz Magela. Ele avalia o conceito do Ecolume como também pedagógico para a
capacitação profissional dos extensionistas e agricultores sobre a mudança
climática, sobretudo para compreensão deles sobre a adoção de ações de
mitigação e adaptação de curto prazo das suas atividades.
Francis acredita
que foi por conta dessas premissas do "plantar "água, "comer
Caatinga" e irriga-la com o sol, voltado para o desenvolvimento de uma
agricultura familiar de baixo carbono, que o projeto do Ecolume foi
pré-selecionado para o financiamento da Ekos Brasil - uma instituição
socioambiental ligada ao Itaú Unibanco. A entidade apoia iniciativas com novos
paradigmas socioambientais (Ecomudança) e que contribuam na geração de renda
das comunidades envolvidas e possam ser replicados. O resultado final do Ekos sobre o projeto "Sistema Agrovoltaico Familiar no Sertão frente às Mudanças
Climáticas" do Ecolume sai até setembro.
Além do IPA e da Embrapa, a rede Ecolume é formada pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Instituto Nacional do Semiárido (Insa),
Instituto Federal do Sertão, Universidade Federal de Pernambuco (UFPE),
Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Sustentabilidade e Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta).
Assessoria de Imprensa
Ecolume/IPA
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