A falta de combustível e de caminhões para transportar a produção de leite em Pernambuco tem provocado um descarte diário de aproximadamente 900 mil litros do produto, o que representa metade do total produzido. Em cifras, significa uma perda média, por dia, de aproximadamente R$ 1,1 milhão, já que o preço médio de venda do produto às indústrias é de R$ 1,25. Cinco dias após o início da manifestação dos caminhoneiros, outros setores da agropecuária pernambucana também já estão sentindo os impactos.
De acordo com o presidente da Sociedade Nordestina de Criadores (SNC), Emanuel Rocha, a maior parte dos produtores de leite do estado é de pequeno porte e não dispõe de tanques de resfriamento para armazenar o produto. “Sem o equipamento, o leite fica ácido em seis horas (após a ordenha) e impróprio para o consumo”, explica, acrescentando que também falta ração para alimentar os rebanhos, o que impacta diretamente na produção. “São animais de alta produção leiteira e que precisam ser alimentados. Quando eles não comem, há impactos em termos de produtividade. Com isso, o custo aumenta também”. Segundo a SNC, o estado possui um rebanho de 2,5 milhões de animais, dos quais 180 mil estão em período de lactação. A falta de transporte também impede os produtores de distribuírem o leite gratuitamente, segundo Rocha.
Sem receber os insumos necessários e sem combustível para manter máquinas em funcionamento, as indústrias de laticínio do estado também estão em alerta. “O ritmo de produção já diminuiu 50%. E algumas fábricas trabalham com diesel nas caldeiras. À medida em que acaba, a indústria é obrigada a parar de produzir”, destaca Carlos Bezerra, presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do estado. Ele destacou que a partir dessa semana algumas fábricas podem suspender totalmente a produção de leite e derivados. Por enquanto, o setor industrial não tem realizado descarte de produtos, mas já há registro de perdas por conta dos bloqueios nas estradas. “O leite estraga depois de 12 horas nos caminhões”, diz Bezerra.
Um levantamento feito pela Federação da Agricultura do estado (Faepe) com base nos sindicatos filiados à entidade aponta que outros segmentos também estão sentindo os impactos do movimento grevista. A região do Vale do São Francisco, no sertão, registrou uma perda de 25% na produção de mangas e uvas nessa semana. A região, que tradicionalmente é conhecida pela exportação dos insumos, também não consegue enviar os produtos por falta de transporte. As frutas são mantidas em caminhões refrigerados. “Caso a greve continue, o Sindicato Rural de Petrolina estima que a produção de uva e manga do Vale tenha 80% de perda, entre os dias 28 de maio e 01 de junho”, diz o relatório da Faepe.
Os últimos quatro dias devem resultar numa perda de 15% da produção do setor avícola do estado. Os avicultores já informam que há falta de ração em várias granjas. O levantamento da Faepe mostra também que abatedouros de caprinos, ovinos e suínos também estão com problemas na produção e o transporte das mercadorias está parado. Os frigoríficos também enfrentam problemas, já que muitos animais que estão sendo transportados acabam morrendo antes de chegar, segundo o relatório.
Nenhum comentário:
Postar um comentário