Cada passo dado em direção à sala de aula é um ato de resistência para quem optou pela carreira de professor. A baixa remuneração, a falta de reconhecimento e de boas condições de trabalho põem em cheque a valorização da profissão no País. O reflexo disto é a queda no número de jovens que visam o magistério como futuro. De acordo com o relatório Políticas Eficientes para Professores, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas 2,4% dos estudantes secundaristas, na faixa dos 15 anos, pretendem ser professores. O número é ainda menor que o registrado há dez anos, quando 7,5% queriam seguir a profissão.
A pesquisa fez o levantamento de outros países. No geral, apenas 4,2% dos adolescentes dessa faixa etária querem seguir no magistério. Uma queda de 1,8% em relação ao levantamento anterior. “Essa desvalorização do professor não nasceu de uma hora para outra. No geral, em todos os países pesquisados há um contexto histórico da perda de valor da profissão”, enfatiza a gerente de projetos da ONG Todos Pela Educação, Caroline Tavares, em entrevista ao Jornal do Commercio.
No ano passado, a instituição fez a pesquisa “Repensar o ensino médio”, em avaliação da educação básica no País. Nela, mais de 33% das pessoas desistiram das salas de aula por causa da queda do valor da carreira. “No levantamento podemos perceber que há uma desvalorização da sociedade, do governo e dos próprios alunos em relação aos professores no País”, afirma a gerente.
De acordo com Caroline Tavares, não há uma solução imediata para deixar a categoria mais atrativa. Ela propõe um conjunto de políticas que podem, a longo prazo, sanar algumas deficiências da área. “Não é apenas salário. São soluções que podem ser revistas para a área. As políticas de atratividade são os primeiros caminhos. Atrair os melhores para a área da docência é o primeiro passo. Depois tem que rever as próprias matrizes curriculares. As universidades precisam de uma melhoria no preparo dos futuros docentes para o mercado. O terceiro ponto seria essa formação complementar dentro da carreira, que o Estado poderia oferecer”, frisa Tavares.
PERNAMBUCO
Se o cenário da categoria no Brasil é ruim, a situação em Pernambuco é ainda pior. Com salários abaixo de outras categorias, os professores pernambucanos lutam pelo reconhecimento da classe, como afirma o tesoureiro do Sindicato dos Professores do Estado de Pernambuco (Sinpro), Paulo César Lopes. “Geralmente, os estados do Nordeste pagam ainda menos que os outros estados do Brasil. A gente tem a exceção do Maranhão, que conseguiu ajustar um piso salarial muito acima do nacional”, afirmou.
Segundo Paulo César, o desafio é ainda maior para os docentes das redes particulares, principalmente as escolas menores. “Muitas vezes, há uma disparidade muito grande entre os salários de professores da rede públicos e os da rede particular. Nosso desafio é de que as escolas menores, as de bairro, cumpram as horas/aulas estabelecidas no piso. O que o normal seria de R$ 15 h/a, essas escolas oferecem R$10”, enfatiza o membro do Sinpro.
Além da disparidade salarial, outro percalço encontrado é desigualdade de oportunidade entre as licenciaturas em Pernambuco. O Espanhol, que foi estabelecido como disciplina obrigatória na matriz curricular em 2005, foi retirada do currículo obrigatório da rede estadual no ano passado. O reflexo: menos oportunidades para os profissionais que escolheram a área como formação.
Apesar da negativa nas estatísticas, o estudante de licenciatura em Português e Espanhol, Carlos Eduardo, de 24 anos, segue confiante no ofício que escolheu. “As experiências que passei no ensino fundamental – I e II foram de extrema importância para a escolha. Foi nesse processo que optei fazer licenciatura, pois minhas professoras me possibilitaram a inserção no mundo da leitura, assim como das palavras. Nesse sentido, pude perceber o quanto um professor pode contribuir na vida de um aluno através de suas práticas pedagógicas”, conta.
A estudante de Química, Danylla Teles, frisa a vantagem de ser uma área com mais demanda no mercado. “O mercado apresenta uma facilidade para profissionais formados, apesar de competir com outros profissionais, por exemplo, engenheiros. Apesar disso, consegui bolsa na área de pesquisa ainda no 2° período do curso, no 4° período fui selecionada para a vaga de professora em um pré-vestibular”, relata.
Por/Pedro Araujo
Por/Pedro Araujo
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