O
Brasil vive um momento de retrocessos de direitos, cortes de políticas e
programas sociais, reformas na educação e nas leis trabalhistas que não trazem
benefícios à população. Escolas rurais sendo fechadas e a proposta de
fortalecimento de uma educação contextualizada cada vez mais ameaçada. Todo
esse conjunto de retrocessos tem impactado também na garantia do acesso das
pessoas ao alimento. A fome tem mais uma vez voltado a registrar índices
alarmantes em todo o país e o Brasil caminha para voltar aos Mapa da Fome, das
Nações Unidas (ONU). Outro risco que a população passa, em especial a da região
semiárida, é a da sede, já que os recursos para os programas que garantiam o
acesso à água de qualidade no Semiárido foram cortados quase que por completo.
É
nesse contexto que o CAATINGA realizou no último dia 08 de agosto o “Encontro
Territorial Cisternas nas Escolas - Água de Educar”, em Ouricuri, que refletiu
sobre essa situação e, em especial, os desmontes na educação. A ação integra a
execução do Programa Cisternas nas Escolas, da Articulação Semiárido Brasileiro
(ASA), realizado na região pelo CAATINGA. O encontro reuniu representantes de
escolas e secretarias municipais de educação dos municípios de Parnamirim,
Ipubi, Santa Cruz, Granito, Exu, Ouricuri e Trindade, no Sertão do Araripe de
Pernambuco, para discutir educação contextualizada.
“O
projeto cisterna nas escolas têm fortalecido a ampliação do acesso à água de
qualidade nas escolas rurais do Araripe, mas também tem sido um instrumento
mobilizador da comunidade escolar na construção de uma educação que incentiva a
criatividade, a crítica e a construção de novos conhecimentos”, explica Lana
Fernandes, integrante da coordenação do CAATINGA.
O
encontro foi também momento de anunciar a iniciativa de escolas que estão
construindo os seus planos políticos pedagógicos com a participação da
comunidade, escolas que aumentaram suas notas no Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (Ideb), depois que começaram a trabalhar com educação
contextualizada para a convivência com o Semiárido. E denunciar o número de
escolas do campo que estão sendo fechadas. “Aqui no Sertão do Araripe contribuímos
com esse processo junto a 200 escolas rurais. Entre os resultados, percebemos a
comunidade escolar construindo seu Plano Político Pedagógico, comunidades
resistindo ao fechamento das escolas, professoras e professores repensando e
inovando seu jeito de realização das aulas e pais e mães, cozinheiras e
auxiliares envolvidos nos momentos de formação sobre a realidade local, a
identidade das pessoas e comunidades, a cultura e o respeito ao meio ambiente”,
reforça Lana.
Essa
foi também a percepção da professora Jucilene Pereira, que atua em Parnamirim.
Para ela, a chegada da cisterna foi importante porque, além da estrutura,
outros conhecimentos passaram a serem partilhados. “Todo esse processo
contribuiu com a forma de trabalhar contextualizado na sala de aula. Os
benefícios que chegam com a cisterna na escola são também de aproximação das
famílias no desenvolvimento das atividades. E aprendemos mais a trabalhar as
questões do Semiárido, com os encontros, as visitas, percebemos outras formas
de trabalhar as aulas. Foi muito gratificante”, conta.
Para a professora Vera Lúcia, de Exu,
a partilha dos conhecimentos com outros educadores e educadoras e os momentos
de formação proporcionados pela ação, contribuíram muito. “Vimos na prática o
que é educação contextualizada. É como um fio que vai sendo puxado e quando
mais puxa o fio do novelo mais se tem a mostrar”, diz.
No
entanto, os desafios estão colocados. Os cortes nos diversos programas para o
Semiárido, para a educação do campo e para a agricultura familiar impactam no
desenvolvimento e fortalecimento dessas ações, que já tem muitos desafios.
“Percebemos que essas experiências necessitam serem fortalecidas e aprofundadas
nos municípios, para uma maior incidência nos planos de educações municipais e
projetos políticos pedagógicos das escolas”, pontua Lana.
Semeando
Vida Digna - Neste
ano, o CAATINGA completa 30 anos de atuação na promoção da agricultura
familiar, da convivência com o Semiárido e da Agroecologia. Ao longo deste
semestre uma série de ações serão realizadas como forma de marcar a data,
celebrar com as parcerias, agricultores e agricultoras e com a sociedade, mas
também de refletir sobre o atual momento que o país vive e o impacto dessas
mudanças na vida das pessoas, seja do campo ou das cidades. Contribuindo para
fortalecer as lutas na defesa dos direitos e contra os retrocessos, como a fome
e da sede no país.
por Catarina de Angola e Kátia Rejane
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