Na madrugada deste sábado (27) uma festa no bairro Cajazeiras,
na periferia de Fortaleza, terminou com ao menos 18 pessoas mortas. Homens
armados invadiram o local e dispararam aleatoriamente contra o público do Forró
do Gago. Segundo a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará,
trata-se da maior chacina já registrada no estado.
Das
vítimas, sete já foram identificadas. Os nomes não foram divulgados, mas a
secretaria informou que três são homens maiores de idade e quatro são mulheres,
duas maiores e duas adolescentes. Pelo menos seis pessoas atingidas no tiroteio
seguem internadas no Instituto Doutor José Frota (IJF), maior centro médico de
urgência e emergência da capital. O secretário da Segurança Pública e Defesa
Social, André Costa, afirmou em coletiva de imprensa que duas estão em estado
grave.
Em
entrevista à imprensa, o secretário disse que as investigações já foram
iniciadas, mas que ainda não é possível precisar o motivo do crime: “O que nós
temos de concreto é que, às 0h39min, recebemos uma chamada da Ciops
[Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança] de um tiroteio em um local
no bairro das Cajazeiras, conhecido como Forró do Gago. De imediato, viaturas
do Cotam [Comando Tático Motorizado] compareceram ao local, depois outras viaturas
foram. Chegando lá, encontraram corpos e foram feitos trabalhos periciais”.
A
chacina reitera o cenário de violência que marca o estado hoje. O Atlas da
Violência 2017, estudo realizado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança
Pública, mostra que a taxa de homicídios por 100 mil habitantes no estado do
Ceará cresceu 47% entre 2010 e 2015, ano em que foram contabilizados 4.163
homicídios.
Professor
da Universidade Federal do Ceará e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência,
Luiz Fábio Paiva afirma que parte desse número está ligada às facções
criminosas. A hegemonia do crime no estado, segundo o pesquisador, tem sido
disputada por dois grupos: uma aliança formada pelo Comando Vermelho e pela
Família do Norte e, de outro, um grupo local conhecido como Guardiões do
Estado, que receberia o apoio do Primeiro Comando da Capital (PCC). Para ele, o
poder público é “completamente ineficaz no enfrentamento dessa situação”.
Na
coletiva, o secretário de Segurança negou que o estado teria perdido o controle
da segurança pública para as facções criminosas. “Não há perda de controle. É
um evento isolado”, disse André Costa, acrescentando que “é uma situação
criminosa, que foi organizada, que foi planejada e que veio a ser executada”.
Ele comparou a situação com ataques em boates e shows em outros países, como nos Estados
Unidos. Para ele, “não há motivo para pânico, para temor”.
Já
Paiva aponta que não se trata de um fato isolado, mas de uma “sistemática de
homicídios”. “Nós tivemos um momento de ‘pacificação’, de acordo entre esses
grupos, mas logo em seguida nós tivemos aí uma deflagração de uma guerra entre
vários grupos que atuam no Ceará. E, consequentemente, logo em seguida, nós
começamos a observar várias chacinas”, diz o pesquisador.
Em
junho de 2017, uma chacina matou seis pessoas no bairro Porto das Dunas, também
em uma festa. Em novembro, outra chacina vitimou quatro adolescentes privados
de liberdade, que foram retirados por criminosos do Centro Educativo Mártir
Francisca. "São várias chacinas sem resolução, sem que os responsáveis
sejam presos e devidamente punidos", disse Paiva.
Em
nota, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou que
uma pessoa foi presa, suspeita de participação na chacina, e que um fuzil foi
apreendido. A pasta informou que mais detalhes não serão divulgados neste
momento para não comprometer as investigações, que contam com o trabalho das
polícias, perícia forense e outros órgãos.
*Colaborou Renata Martins, repórter da Rádio Nacional
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