"Assumimos na Organização Mundial da Saúde o compromisso de reduzir em 10% o número de casos até 2020. Para alcançar essa meta, precisamos agir de forma rápida e, sobretudo, nas áreas que indicam maior risco", afirmou Fátima.
Entre as medidas que deverão ser colocadas em prática está o aumento de Centros de Atenção Psicossocial em regiões onde os índices de suicídio são considerados mais altos e melhora dos fluxos de serviços de saúde para prevenção do problema.
Além disso, novos estudos deverão ser realizados para identificar as possíveis causas para o aumento de casos em determinadas regiões do País e ações específicas para populações indígenas, onde casos também ocorrem com maior frequência.
Dados de Boletim Epidemiológico lançado nesta quinta-feira, 21, deixam claro problemas de atendimento. Das mortes por suicídio entre 2011 e 2016, 31,3% ocorreram entre mulheres que já haviam tentado outras vezes. No grupo masculino, o porcentual é menor, mas também expressivo: 26,4%.
"Aqui nós percebemos a falha. Não agimos para evitar uma segunda tentativa", alerta Fátima.
No caso das mulheres, a maior parte das tentativas de suicídio está relacionada à violência intradomiciliar. "Os números reforçam a necessidade de trabalharmos na prevenção contra a violência, uma causa importante para a mortalidade feminina: seja o feminicídio, seja o suicídio."
Das tentativas de suicídio registradas no País no período entre 2011-2016, 69% ocorreram entre mulheres. Quando se analisam os números de morte provocadas por suicídio, no entanto, a situação se inverte: 21% ocorreram entre mulheres e 79%, entre homens.
Também preocupa o Ministério da Saúde o avanço da suicídio entre jovens. Essa é a quarta causa de morte de brasileiros entre 15 a 29 anos. No mundo, o suicídio é a segunda causa entre essa população. Isso não significa, no entanto, que o Brasil esteja em uma situação melhor.
"No País, o jovem morre antes por violência. São dois fatores que acabam concorrendo entre si", explica Fátima.
Na avaliação da coordenadora, se dados de mortes por outras causas de violência fossem menores, o problema do suicídio entre jovens estaria mais evidente. "Isso mostra a necessidade de termos ações específicas para essa população."
O boletim indica, por exemplo, um crescimento de mortes por suicídio na faixa entre 10 a 19 anos de 2011 a 2015. Os casos subiram de 782 para 893.
Regiões
Um dos fatos que mais chamam a atenção dos técnicos do Ministério da Saúde é a concentração de registros de suicídios em algumas áreas do País. A Região Sul apresenta 23% dos casos, embora responda por 14% da população brasileira. No Sudeste, região que concentra 42% da população, foram registrados 38% dos suicídios registrados no País.
"Intriga o fato de os casos se registrarem numa área onde há um alto nível de renda, pouca desigualdade", comenta Fátima.
O Sul é acompanhado pelo Ministério da Saúde há 10 anos. Há fortes indícios de que o problema possa estar relacionado à cultura do fumo e aos agrotóxicos usados nas lavouras.
"Pesticidas manganês aumentam o risco de provocar danos ao sistema nervoso central", observa Fátima. Para ela, essa relação precisa ser acompanhada de perto. "Além do suicídio, a ação do pesticida está associada a outros agravos, que também precisam ser avaliados, como câncer e más-formações congênitas. Esse assunto precisa estar na agenda."
Pelos dados coletados pelo Ministério da Saúde, estão no Rio Grande do Sul três das quatro cidades com piores indicadores de suicídio. O município de Forquetinha é o que apresenta a pior taxa de suicídio no País. São 78,7 casos a cada 100 mil habitantes. Para se ter uma ideia, a taxa de mortalidade nacional é de 5,7 a cada 100 mil.
Em segundo lugar, vem Taipas do Tocantins, com 57 casos por 100 mil. Travesseiro, no Rio Grande do Sul, vem em terceiro lugar, com 55,8 casos por 100 mil; e André da Rocha, também no Rio Grande do Sul, com 52,4.
Também são consideradas de risco regiões do Piauí e a divisa entre São Paulo e Minas. O Ministério da Saúde prepara-se agora para investigar as causas do maior risco nessas duas áreas. "Atualmente, ainda não estão claras as razões", diz Fátima.
Agência Estado
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