A Arquidiocese da Paraíba foi condenada pela Justiça do Trabalho a pagar uma indenização de R$ 12 milhões por casos de exploração sexual contra flanelinhas e coroinhas menores de idade. O crime foi praticado por padres e até o arcebispo emérito do Estado dom Aldo Pagotto está envolvido no escândalo. Ele é suspeito de acobertar os crimes dos sacerdotes e também de ter mantido relações sexuais com jovens. A denúncia foi feita ontem à noite pelo Fantástico, da TV Globo.
Em entrevista um rapaz de 17 anos que foi assistente de missa e seminarista confessou ter sido vítima de assédio sexual por muitos padres. “Através de palavras, de atos, pegava nas minhas partes sexuais. A gente espera uma coisa e de repente se depara com outra.”
Ele diz que cedeu às investidas pela vontade de se tornar padre. “Porque até então a palavra de ordem seria ‘passando por esse processo você vai conseguir chegar a ser padre’. Meio que uma troca de, não sei se a palavra certa é troca de favores. Às vezes uma conversa, um abraço e no pé do ouvido eles diziam: ‘Você tá muito cheiroso, você tá muito lindo, muito gostoso’”, disse.
A vítima afirmou que havia relações sexuais e que se envolveu com três padres. Os nomes dos três sacerdotes aparecem em vários depoimentos: Jaelson Alves de Andrade, Ednaldo Araújo dos Santos e Severino Melo. Os padres estariam afastados de suas funções. O denunciante não quis ser identificado porque tem medo. “Eles diziam que eu tivesse cuidado por onde andava, porque eu não sabia quem estava atrás de mim, nem na minha frente, nem ao meu lado”, contou.
“O ato é gravíssimo. São adolescentes que acreditaram naquela instituição a representação de Deus”, afirmou o procurador do Trabalho, Eduardo Varandas. “Na verdade, o que foi apurado pelo Ministério Público do Trabalho foi de que havia inserido dentro da sistemática católica um grupo de sacerdotes de forma habitual que pagavam por sexo a flanelinhas, a coroinhas e também a seminaristas”, explicou o procurador Varandas.
O crime foi definido como exploração sexual. Como o processo está em segredo de justiça, o procurador está impedido de revelar detalhes. Segundo Varadas, a característica da exploração sexual é a ausência da vontade livre para praticar o ato. Nesse caso, o pagamento às vítimas podia ser feito em dinheiro ou até em comida. Sobre os R$ 12 milhões que a arquidiocese terá de pagar serão revertidos para o fundo da infância, da adolescência e instituições congêneres que trabalham com crianças sexualmente exploradas, explicou Varandas.
Outras duas testemunhas denunciaram o caso à Justiça. Uma delas um dono de restaurante que frequentava a igreja. “Antes dele (do padre Jaelson), a gente tinha meninas e meninos como coroinhas, mas depois que ele assumiu passou a só admitir coroinhas homens. Um dia dois deles me procuraram. O primeiro falou comigo chorando, contou que tinha decidido sair da igreja porque um dia estava na casa paroquial e o padre Jaelson pediu que passasse óleo nele durante o banho. O garoto tinha entre 14 e 15 anos. O outro coroinha que veio falar comigo disse que teve um relacionamento com o padre dos 14 até os 21 anos”, disse em depoimento.
Outra testemunha é um funcionário da Catedral, que trabalhou lá por mais de 30 anos. “Passaram três bispos e cinco padres no tempo que eu estive lá. Um desses padres, padre Jaelson, levava coroinhas e outros meninos, todos menores de idade, para dormir com ele nos quartos que ficam atrás da igreja. Os meninos iam embora de manhã cedo. Ele pagava lanches para os meninos e também dava roupas para eles como um agrado. Eu já cheguei a pegar padre Jaelson tendo relação sexual com menor de idade dentro da igreja. Também trabalhei com o padre Ednaldo. Ele costumava sair com os meninos que olhavam os carros na porta da Catedral. Eram todos menores de idade e o padre dava dinheiro pra eles”, afirmou em depoimento.
Foi decisivo o depoimento de um desses jovens, que quando era menor de idade trabalhava como flanelinha no entorno da Catedral, e disse que, na época, teve relações com o padre Ednaldo. Ele contou tudo, mas não pôde ver a conclusão do processo porque foi assassinado em dezembro de 2016. A polícia chegou a investigar a possibilidade de queima de arquivo, mas nada ficou comprovado.
Caso foi arquivado na Justiça Comum, mas MP recorreu à Justiça do Trabalho. Valor da condenação vai para fundo da infância
“Isso precisa ser passado a limpo. A Igreja deve essa explicação ao mundo. A preocupação do Ministério Público é evitar que danos como esse sejam rotina na vida de crianças e adolescentes”, afirmou o procurador do Trabalho Eduardo Varandas.
“Não participo desse tipo de reportagem. Esclareço que aos 8.11.2017 os padres suspeitos em envolvimento com menores foram inocentados por unanimidade”, disse arcebispo dom Aldo Pagotto, em nota ao Fantástico.
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