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domingo, 10 de março de 2019

Atuação discreta do ministro Santos Cruz alimenta desconfiança entre parlamentares


Um dos gabinetes mais influentes da Praça dos Três Poderes não atrai deputados e senadores. Com a missão de ajudar na articulação política, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto Santos Cruz, ganhou fama no Congresso de bloquear nomeações e monitorar a atuação dos parlamentares.

A frequência de congressistas na sala do ministro, no terceiro andar do Palácio, está longe dos números registrados pelos articuladores dos governos passados. Em dois meses de mandato do presidente Jair Bolsonaro, a agenda de Santos Cruz registrou audiências com 32 parlamentares. É um número inferior aos mais de 150 parlamentares que passaram em janeiro e fevereiro pela Casa Civil, de Onyx Lorenzoni, ministro que faz o gerenciamento do governo e compartilha a articulação política. 
Sem traquejo político, Santos Cruz trabalha na elaboração de um sistema que pretende estabelecer certos requisitos para indicações políticas no chamado “banco de talentos” que será criado pelo governo. O objetivo, dizem pessoas próximas, é buscar ferramentas para garantir que as nomeações respeitem minimamente exigências técnicas de aptidão e habilidade necessárias para cada cargo.
Em uma das visitas que recebeu no gabinete, exibiu uma pilha com currículos para cargos no Executivo e disse que leria pessoalmente um a um. “Isso aqui é a vida das pessoas”, comentou.
“Ficha” dos parlamentares
No Congresso, lideranças de partidos aliados do Planalto receberam queixas de que, nos últimos dias, o ministro demonstrou intenção de elaborar um aplicativo para, entre outras coisas, criar uma “ficha” dos parlamentares, que reuniria desde as posições de cada um em votações na Câmara e no Senado até informações pessoais. A assessoria de imprensa do ministro diz que a reclamação não faz sentido e nega a elaboração do aplicativo.
Nem mesmo as crises no governo são capazes de alterar a rotina de Santos Cruz, que começa a partir das 4 horas da manhã. No mês passado, ao acompanhar o ministro da Justiça, Sergio Moro, e Onyx na entrega do pacote anticrime ao Congresso, não fez declarações públicas. Durante a visita, foi estimulado a fazer um discurso, assim como fizeram Onyx e Moro, porém preferiu não se manifestar. A postura dá o tom de como Santos Cruz prefere conduzir os trabalhos, longe dos holofotes.
Ainda durante o período de transição, quando montava sua estrutura de governo, Bolsonaro afirmou mais de uma vez que Santos Cruz atuaria na articulação política, que seria feita de forma “compartilhada” pelos ministros palacianos, sob o comando de Onyx.
Nos corredores do Congresso, alguns parlamentares afirmam que só conhecem Santos Cruz por fotos e o veem com desconfiança. Um deles chegou a dizer que prefere esperar duas semanas para conseguir uma agenda com Onyx Lorenzoni a falar com o ministro da Secretaria de Governo. Ele diz que essa é uma “conclusão equivocada”.
O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), admitiu que ainda não conhece Santos Cruz e que nunca pediu uma audiência com ele. O tucano disse que tem ouvido reclamações de outros parlamentares sobre a falta de diálogo com o governo, mas ponderou que as críticas não são direcionadas ao ministro da Secretaria de Governo. “Nunca falam mal dele, pelo contrário, mas dizem que falta esse diálogo e torcem para que o interlocutor seja o Onyx”. 
O líder do MDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), também não conhece Santos Cruz e ainda não tentou conhecê-lo, mas afirmou que “os deputados do MDB que estiveram com ele disseram que foi muito gentil”.
Para o ex-deputado Osmar Serraglio, que teve um encontro com Santos Cruz em janeiro deste ano, o ministro passa uma impressão errada aos congressistas. “Diferentemente do que se imagina, o ministro está recebendo parlamentares de portas abertas. Ele tem uma imagem que talvez não entusiasme, nas fotos que divulgam está sempre sério, mas ele é aberto aos políticos, não tem hora e não nega audiência”.
Ministro foca em reestruturação da EBC e da Secom
Santos Cruz não parece se importar. Em meio a crises no governo e dos primeiros desafios de Bolsonaro para formar uma base sólida no Legislativo, o ministro tem focado sua atuação em questões como a reestruturação da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), da Secretaria Especial da Comunicação (Secom) e o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). 
Em fevereiro, a viagem que o ministro da Secretaria de Governo fez ao Quênia para encontro da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre missões de paz foi interpretada como um sinal de que a articulação política seria uma exclusividade de Onyx. Santos Cruz viajou justamente na semana em que Bolsonaro teve a primeira reunião com lideranças partidárias para tratar da reforma da Previdência, principal aposta da equipe econômica.
No início da nova gestão, o então ministro Gustavo Bebianno, demitido em fevereiro, serviu como alternativa ao estilo de Onyx, estabelecendo uma melhor relação com autoridades como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Com a saída de Bebianno, no entanto, Santos Cruz ainda não deu sinal de que ocupará esse vácuo.
Agora, a viagem de Onyx à Antártica para conhecer o Programa Antártico Brasileiro esta semana intensificou a pressão sobre o papel de Santos Cruz. A ausência do principal articulador político em momento importante para a tramitação da reforma da Previdência levantou novas reclamações de parlamentares.
O porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, disse que todos podem trabalhar nas tratativas com o Legislativo. “Não existem reservas no governo, todos são titulares”, disse Rêgo Barros.
2 PERGUNTAS PARA…
Carlos Alberto Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo:
1 – Parlamentares indicaram que têm evitado procurar o Sr. no processo de articulação com o Congresso. O Sr. está aberto ao diálogo?
Eu não acho que estão evitando. É uma conclusão equivocada, talvez por uma análise puramente matemática. É natural que parlamentares se dirijam mais à Casa Civil, onde está o ministro Onyx Lorenzoni, que é o responsável pela coordenação política, e não exatamente porque ele é um político de carreira. A secretaria está completamente aberta para todos os segmentos sociais e parlamentares.
2 – É possível mudar a mentalidade do “toma lá, dá-cá”?
É sabido que a política brasileira, infelizmente, para alguns, foi praticada ao longo do tempo com a troca de favores e acesso privilegiado a recursos financeiros. Isso trouxe uma imagem ruim para a política. Infelizmente, isso foi motivo de criação de estereótipos negativos. A grande maioria de parlamentares é consciente dos problemas nacionais e tem suas atividades baseadas no desenvolvimento de políticas públicas e de benefícios às suas bases e ao país.  



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