Políticos que não conseguiram se reeleger mergulham em suas reflexões sobre os motivos que os levaram à derrota. Algo os une: a surpresa com o resultado e a crença de que os institutos de pesquisa falharam em medir o desejo por renovação expresso pelos eleitores nas urnas.
Eles avaliam que há um clima geral de repúdio à política tradicional alimentado pela Lava-Jato, pelas reformas do presidente Michel Temer e pela crise política que se alastra desde o início do segundo governo Dilma Rousseff.
Eles avaliam que há um clima geral de repúdio à política tradicional alimentado pela Lava-Jato, pelas reformas do presidente Michel Temer e pela crise política que se alastra desde o início do segundo governo Dilma Rousseff.
Nos últimos dias, o Jornal O Globo procurou os principais nomes do Congresso que saíram das eleições derrotados no último domingo. O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), e o “líder de todos os governos”, Romero Jucá (MDB-RR), não quiseram falar. Os deputados Leonardo Picciani (MDB-RJ) e Cristiane Brasil (PTB-RJ) também preferiram não comentar suas derrotas. Quadros da esquerda, como os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) ficaram quietos, assim como o deputado Heráclito Fortes (DEM-PI), na direita, mas outros dez toparam fazer a reflexão. O deputado Darcísio Perondi (MDB-RS) reagiu de maneira peculiar:
— Quem perdeu não fui eu, foi o Brasil. Eu era um bom parlamentar.
Jorge Viana (PT-AC)
O senador foi eleito e reeleito prefeito de Rio Branco, repetiu o desempenho como governador do Acre, mas não conseguiu passar do primeiro mandato no Senado. No domingo passado, ficou em terceiro na eleição. Além da derrota pessoal, viu a derrocada do seu grupo político, que governava o estado há 19 anos. Ele diz que ainda vai ter de dormir “muitas noites” para refletir sobre a eleição. Mas, na sua opinião, “há um ambiente de revolta, uma espécie de cegueira coletiva”. Viana afirma que não guarda nenhum ressentimento por ter sido derrotado nas urnas:
— Me apego à frase do Saramago: “O que as vitórias têm de mal é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas”.
José Agripino Maia (DEM-RN)
Prevendo dificuldades para se reeleger ao Senado, Agripino concorreu à Câmara. O filho, Felipe Maia (DEM-RN), abriu mão de tentar renovar seu mandato de deputado federal. Com 39 anos de vida pública, foi prefeito de Natal e governou duas vezes o Rio Grande do Norte. No Senado desde 1995, Agripino inicialmente ficou irritado ao ser questionado sobre sua derrota.
— Por que eu perdi? Porque faltou voto! Disse, sem muito rodeio.
Depois, aceitou analisar o recado das urnas com “humildade”.
— Tenho que ter humildade diante da vontade do eleitor. O que o eleitor está falando é: os políticos tradicionais não me representam mais, afirmou.
Cristovam Buarque (PPS-DF)
Ex-reitor da Universidade de Brasília, Cristovam entrou na política nos anos 1990, como governador do Distrito Federal. Foi ministro da Educação de Lula até ser demitido, por telefone, pelo petista, em 2004. No Senado há 16 anos, expôs no gabinete a foto tirada enquanto recebia a famosa ligação. Identificado com o eleitorado de esquerda, votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff, apoiou projetos de Michel Temer, e acredita que pagou o preço por isso. Sem mandato, vai voltar a “ler, escrever, dar aula”. Ele diz que a sensação é de “frustralívio”, e que sua mulher, que torcia pela derrota, colocou para gelar uma champanhe para abrir caso ele perdesse:
— Ainda não abrimos.
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB)
Com 32 anos de mandatos eletivos, o senador ficou surpreso com o resultado, pois liderou as pesquisas de intenção de votos durante toda a campanha. Para ele, houve um movimento que pegou no eleitorado, de não querer renovar o mandato de ninguém, independentemente do desempenho dos atuais mandatários. Diante da derrota, Cássio diz que encarou o resultado com naturalidade e não chorou, seus funcionários, sim.
— Continuo andando na rua de cabeça erguida e tenho recebido muito carinho, conforto e diversas homenagens de eleitores. Não tive uma ressaca. Não derrubei nenhuma lágrima. Alguns funcionários choraram. Na minha atividade, ganhar e perder faz parte.
Benedito de Lira (PP-AL)
Na política desde 1966, o senador de 76 anos diz que o “povo cansou” e quer caras novas. O eleitor de Alagoas ainda teve paciência para eleger um velho conhecido, Renan Calheiros (MDB), mas não dois. O outro eleito foi Rodrigo Cunha (PSDB), que entrou na política em 2014. Benedito diz que Renan se elegeu “graças ao filho”, candidato único ao governo alagoano. Já Cunha, ele diz, é político jovem que virou “vedete” lembrando da mãe, Ceci Cunha, que era deputada e foi assassinada no fim dos anos 1990 por inimigos políticos. Benedito admite que ficou “muito triste e decepcionado” com o resultado:
— Quando eu vi o resultado, virei para lá e não quis mais saber.
Darcísio Perondi (MDB-RS)
Aliado fervoroso do presidente Michel Temer na Câmara, o deputado diz que sua derrota foi “acachapante” —109 mil votos, em 2014, contra 39 mil agora — porque “o povo não entendeu as reformas” de Temer. Ele não se arrepende das posições que tomou e acredita que “historiadores reconhecerão” seu trabalho.
— Perdi por ser um reformista e por ter defendido Temer nas duas denúncias ineptas, mas faria tudo de novo, disse.
Pediatra, dará adeus à política e deve voltar aos consultórios. Perondi ficou triste, mas não chorou. Quem perde com sua ausência na Câmara, avisa, é o Brasil.
— Meus familiares choraram. Eu não chorei. Quem perdeu não fui eu, foi o Brasil. Eu era um bom parlamentar.
José Carlos Aleluia (DEM-BA)
O deputado tentava o sétimo mandato. Atuando num estado onde o PT conquistou a reeleição do governador Rui Costa em primeiro turno, com 77% dos votos, ele diz que a centro-esquerda e a centro-direita foram esmagadas pela polarização entre PT e Bolsonaro. Fiel ao candidato de sua coligação, o tucano Geraldo Alckmin, Aleluia conta que esperava ter baixa votação desta vez. Ele diz que a derrota “não foi culpa de ninguém” e avalia que a renovação da política “é uma coisa boa”. Engenheiro de formação, mas político profissional, ele se recusa, no entanto, a sair de cena.
— Na próxima eleição vou me candidatar a qualquer coisa. Vereador, qualquer coisa, disse.
Marcus Pestana (PSDB-MG)
O deputado avalia que a população vem dando sinais de cansaço com a política desde 2013. O impeachment de Dilma e a Lava-Jato ampliaram esse sentimento.
— A sociedade está repudiando o sistema como um todo, reflete Pestana.
Entre os mineiros, ele diz que a gravação do tucano Aécio Neves pedindo dinheiro ao delator Joesley Batista caiu como uma bomba no estado.
O tucano não guarda rancor diante da derrota, mas confessa que ficou surpreso com o resultado.
— A minha situação era aparentemente sólida. Mas teve município que eu contava em ter 4 mil, 5 mil votos, mas tive 1.500. Mas as coisas são assim. Foi uma eleição atípica.
Pauderney Avelino (DEM-AM)
Com seis mandatos na Câmara, o deputado tentou o Senado e ficou surpreso com o resultado, pois as pesquisas o colocavam como o mais votado. Embora seja do DEM, avalia que perdeu por causa da “onda conservadora que varreu o país”. Ele diz que o eleitor quer renovar a qualquer custo a política, e que, no fim, “um bando de malucos” foram eleitos.
— O povo entrou nessa onda de renovação. Imagino o que será esse Congresso com um bando de maluco. Vou cuidar da minha vida. Passei quase a vida toda cuidando dos outros. Claro que fica um gosto amargo da derrota, porque não é bom perder uma disputa. Mas, por outro lado, fico aliviado. Tirei um elefante das costas, disse. Com informações de O Globo.
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